Bancos: crédito à habitação e empresas públicas é para cortar
Os bancos nacionais avisaram já o Banco de Portugal que pretendem apertar ainda mais a concessão de crédito à habitaçãoe deram sinais de que vão também começar a reduzir o fluxo de financiamento das empresas púbicas, que até agora estava emcrescimento.
No Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado esta terça-feira, o regulador revela que os planosde desalavancagem apresentados pelos oito maiores grupos bancários revelam tendências comuns nas medidas que estes pretendemtomar para melhorarem a sua situação. Uma das tendências é a redução do financiamento por via de títulos de dívida colocadospelos bancos junto da respectiva base de clientes, outra a diminuição dos activos sob gestão, onde se incluem os fundos deinvestimento e os produtos de seguros e ainda uma redução na carteira de crédito.
Para reduzir a sua carteira, osbancos podem vender crédito e alguns recorreram já a esta possibilidade no decurso do primeiro semestre de 2011. Uma soluçãovista com bons olhos pelo banco central, porque «não implica restrições ao financiamento da economia portuguesa». No futuro,o BdP espera ainda mais operações deste género, especialmente com crédito a não residentes, podendo também ocorrer uma «reduçãode actividade em alguns mercados».
Outra possibilidade passa por conceder menos crédito. «Em articulação com a amortizaçãoprogramada dos créditos já existentes, tal implica uma redução mais gradual da carteira de crédito dos bancos. Neste contexto,e de acordo com os planos apresentados pelos bancos, tal tenderá a ser particularmente relevante no caso dos créditos a particularespara aquisição de habitação».
Ou seja, à medida que os portugueses forem amortizando os empréstimos à habitação jácontratados, os bancos vão concedendo menos crédito novo para comprar casa.
Crédito às empresas públicas tambémé para cortar
Mas não é só, no relatório, o BdP escreve ainda que será também significativa «a diminuição daexposição às administrações públicas e às empresas públicas não integradas no perímetro de consolidação das administraçõespúblicas».
Ao emprestar menos dinheiro ao sector público, a banca fica com maior capacidade de financiamento aosector privado. «Uma redução das necessidades de financiamento das instituições públicas e/ou uma alteração nos instrumentosutilizados pelas mesmas para obtenção de financiamento junto dos bancos podem contribuir para a libertação de recursos passíveisde ser canalizados para o sector privado sob a forma de crédito», explica.
No que toca ao crédito às empresas privadas,haverá também uma redução, mas mais ligeira. A redução projectada para o período de Junho de 2011 a Dezembro de 2014 é daordem de 2.100 milhões de euros, embora somente cerca de 1.500 milhões de euros correspondam a redução de financiamento aosector, com o montante de crédito remanescente a ser objecto de venda.
A redução da carteira de crédito a particularespara consumo e outros fins assumirá também uma importância reduzida, o que está associado ao seu baixo peso no stock de crédito.
Menoscrédito, mas mais depósitos
Nos planos de desalavancagem (redução do hiato entre depósitos e crédito) os bancosprevêem assim um menor volume de crédito, mas também um acréscimo de depósitos, que se têm revelado particularmente robustosno contexto europeu, especialmente numa altura de crise, em que o rendimento disponível está a diminuir e em que existe umadesconfiança internacional generalizada face ao sistema financeiro.
Com o ajustamento que os bancos vão fazer nosseus balanços, o endividamento dos particulares vai voltar a níveis de 2004 (ou seja, vai recuar sete anos) e o das empresasa níveis de 2007 (recua quatro anos).
«Estes níveis são ainda elevados» e o processo de ajustamento dos particularese das empresas deverá persistir para além do horizonte do Programa de Assistência Económica e Financeira, conclui.
Fonte: Agência Financeira