A prestação média do crédito à habitação em Portugal ronda os 270 euros, e subiu cerca de 20 euros desde o início de 2010,revela o Banco de Portugal no Relatório de Estabilidade Financeira.
O valor é tão baixo porque a grande maioria doscontratos foi assinada há anos, quando as taxas de juro eram baixas e os spreads também. O grosso desta prestação média correspondeprecisamente à amortização de capital, o que significa que a maioria dos contratos em vigor são mais antigos, tendo já passadoa fase em que se paga sobretudo juros.
A maioria dos contratos de crédito à habitação em Portugal utilizam o modelode prestações constantes, o que significa que nos primeiros anos se paga sobretudo juros e praticamente não se amortiza capital.À medida que o tempo vai passando, vai diminuindo a fatia correspondente a juros e aumentando a fatia correspondente a amortizaçãode capital.
Segundo o BdP, os particulares começaram a dar maior preferência a depósitos e outros produtos menossujeitos a flutuações de mercado, dado o contexto de grande incerteza, e estão a reduzir o endividamento, com a procura decrédito a cair já na primeira metade deste ano, especialmente o crédito à habitação, que registou um fluxo negativo pela primeiravez num longo período.
Os bancos têm aumentado spreads e agravado outras condições contratuais, como o aumento dascomissões e outros encargos não relacionados com taxas de juro e a diminuição do montante dos empréstimos face ao valor dagarantia. No que respeita ao crédito para consumo e outros fins, os bancos estão a ser mais duros na avaliação do risco dosclientes e do valor das garantias apresentadas.
Para o futuro, o BdP prevê a deterioração da confiança das famílias,num contexto de aumento continuado do desemprego e redução acentuada do rendimento disponível. Com isto, a procura por créditodeverá cair consideravelmente. Juntamente com a oferta mais restrita por parte dos bancos, o endividamento das famílias deveráassim diminuir.
Prevê-se também um aumento do malparado, especialmente no que respeita aos empréstimos para consumoe outros fins. No caso dos empréstimos à habitação, as prestações mantêm ainda um nível relativamente moderado em termos absolutosface ao que se observava no início de 2009, o que se deve à queda acentuada das taxas de juro.
Daqui para a frente,apesar de as taxas de juro deverem continuar a cair, o BdP alerta que as prestações dos novos empréstimos reflectirão condiçõescontratuais mais restritivas (com spreads mais elevados e prazos menos longos).
Para os empréstimos já existentes,a tendência de descida das taxas de mercado conjugada com a manutenção dos spreads, tenderá a baixar as prestações a pagar.Mas como o rendimento disponível das famílias também deverá encolher, a fatia que é engolida pela prestação do crédito (chamadataxa de esforço) terá um peso maior no orçamento.
O BdP revela que a banca estrangeira ganhou peso no crédito habitaçãograças as taxas de juro mais favoráveis que praticou nos últimos anos. Nos novos empréstimos, representam agora 35% quandoem 2009 eram apenas 20%. Mas essa tendência começa agora a esbater-se.
No relatório, divulgado esta terça-feira,o Banco de Portugal revela ainda que o
crédito em risco (quejunta o malparado com aquele que tem probabilidade de entrar também em incumprimento) representa já 6,8% do total, qualquercoisa como 22 mil milhões de euros.
Diz ainda que os bancos pretendem continuar a cortar na concessão de crédito,especialmente à
habitação e às empresas públicas, mas garanteque não há uma
crise de crédito em Portugal.
Para alémdisso, nota que a
rentabilidade dos bancos nunca foi tão baixa.
Fonte: Agência Financeira