Ao contrário do que se poderia pensar, a queda de 1,7 mil milhões de euros no malparado, registada em Dezembro de 2010, não é uma boa notícia.
Quem o diz é o presidente
da Associação Portuguesa das Empresas de Recuperação de Crédito (APERC), António Gaspar. «O malparado não começou finalmente
a cair. O que aconteceu em Dezembro é aquilo que costuma acontecer todos os finais de ano: os bancos limpam as suas carteiras»,
explicou à Agência Financeira. Ou seja, «isto não conta, não é tendência nenhuma».
De acordo com este professor
universitário, os bancos «usam as provisões que tinham constituído e fazem o chamado write-off, ou seja, o crédito
sai fora do balanço». No fundo, os bancos tiram do balanço os valores em dívida que já perderam a esperança de recuperar.
E, para o presidente da APERC, não há dúvidas de que isto representa a maior fatia da queda do malparado.
Valor
de malparado deve ter voltado a subir em Janeiro
«Não podemos saber quanto destes 1,7 mil milhões de euros que
desapareceram do malparado corresponde a write-offs, porque o Banco de Portugal não obriga a comunicar esse valor,
mas não tenho dúvidas de que é a maior parte», diz à AF.
Uma vez limpo o balanço, os bancos tentam vender
as suas carteiras de malparado a algumas empresas de recuperação de crédito, mas «há poucas com músculo financeiro suficiente
para adquirir uma carteira destas».
Mesmo que o banco venda apenas «10 a 15% do total», esse valor vai ajudá-lo
a compor o balanço e a responsabilidade desse crédito passa para terceiros.
António Gaspar não tem dúvidas ao afirmar
que, quando saírem os dados do banco de Portugal relativos a Janeiro, «o malparado vai voltar a crescer face a Dezembro».
Crédito
mais difícil a cada dia que passa
Tendência confirmada é a da maior restrição na concessão de crédito. «O crédito
está mais escasso e os bancos estão muito atentos a isso». Para se precaverem, os bancos preferem emprestar dinheiro onde
é mais seguro e «vão transferindo cada vez mais o dinheiro que têm para emprestar do crédito ao consumo e outros fins para
crédito hipotecário (habitação), em que há um activo como garantia, que é o próprio imóvel».
Mas o aperto é visível
até no crédito à habitação: «Mesmo o valor do crédito à habitação está a crescer cada vez menos», nota António Gaspar, lembrando
que os bancos também não estão a facilitar a vida aos clientes nesta frente, já que avaliam as casas por baixo e emprestam
uma menor percentagem do valor de avaliação, obrigando as famílias a dar uma entrada «substantiva» para a compra do lar.
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